quinta-feira, 7 de agosto de 2025

amar é querer sorrir

ilustração por anna-laura sullivan

julho passou MUITO rápido e foi um caos com salpicos de coisas boas que valeram a pena. eu já comecei a escrever isso aqui muitas vezes, sem conseguir terminar uma única vez, porque não sei exatamente o que quero dizer. já falei de cartas, já falei de hormônios, mas queria mesmo falar da minha namorada.

o nome dela é amanda, também conhecida como amandinha não — assim mesmo, tudo junto: “amandinha não”. ela é uma das pessoas mais gentis, mais inteligentes e mais engraçadas que eu conheço, e eu sinto uma falta gigantesca de ter ela perto de mim agora que a danada tá morando no méxico por conta do trabalho.

amandinha não, assim como eu (e provavelmente como você também), também tem suas angústias e seus momentos difíceis. um deles aconteceu há pouco tempo. “como vocês lidam com esses momentos estando longe uma da outra, dependendo de ligações e mensagens?”, você me pergunta. “como dá,” é minha resposta. às vezes mais, às vezes menos; quando as duas estão tristes é mais difícil, mas a gente leva.

uma das coisas essenciais não só ao relacionamento à distância, mas a relacionamentos em geral (apesar de ser especialmente importante nesse primeiro), é a compreensão; tem dias em que olhar pra uma tela de computador no trabalho e receber mil cobranças de mil lugares frita tanto o seu cérebro que você não quer falar com mais ninguém. tem dias em que você precisa apontar que, desculpa, não quero te ligar hoje. se pudesse, não ligaria pra ninguém. a gente lida com isso como dá: tentando entender que cada pessoa tem seu tempo, mas deixando claro que estamos ali e que pode não estar tudo bem, mas vai ficar. às vezes uma mensagem animada sai feito tiro pela culatra; às vezes, acerta em cheio. pra não sobrecarregar amandinha não com ligações, eu mandei beijos durante o dia, fotos engraçadinhas, áudios, músicas; me ocupei com outras coisas. demos uma pausa na novela assistida religiosamente todo dia (menos domingo, um dia tão triste que nem novela tem) e cada uma foi lidar com as suas questões — eu também não estava nos meus melhores dias, diga-se de passagem, então foi uma questão de respirar fundo e encontrar a minha cabeça onde quer que eu a tivesse perdido.

quando finalmente nos encontramos no meio do caminho, depois de um bocado de tempo sem se ligar nem se falar direito, fomos assistir novela juntas e conversar da vida, e eu fiquei reparando nela, um quadradinho na tela do computador que há nem tanto tempo assim dormia do meu lado, me trazia água enquanto eu ficava presa em um milhão de reuniões e me chamava pra cochilar cinco minutinhos depois do almoço, e me dei conta — mais uma vez, porque a vida nada mais é que várias repetições da mesma coisa — do quanto eu gosto dela.

eu saí dessa ligação com a minha cara doendo de tanto sorrir. é bom ver quem a gente ama, né? não sei explicar. ver amandinha não animada, conversando comigo sobre música brasileira, sobre novela, sobre qualquer coisa; ver o sorriso dela, e causar um sorriso nela quando eu digo que ela fica linda sorrindo. eu amo que ela esteja feliz. eu amo que ela saiba tanto sobre música. eu amo que ela se empolgue e fale um monte de coisas. eu amo discordar dela e estar tudo bem. eu amo o quão frequente é uma de nós dizer algo e a outra imediatamente rir falando “meu deus eu pensei isso agora mesmo”. eu amo que, depois de um momento difícil pra qualquer uma de nós ou pras duas, a gente se lembra de que passa, tudo passa. e vem de novo. e passa de novo.

nessa segunda, resolvi mexer nas cartas que ainda não tinha respondido. o que me fez querer ler quase todas as correspondências que já recebi, guardadas numa caixa. é engraçado o tanto de coisas que você percebe olhando pras coisas depois de um tempo: van me mandou cartas em todos os meus três últimos aniversários, se preocupando em mandar especificamente coisas que eu tinha dito que queria em um deles. quem tira tempo pra mandar curativos infantis pra alguém, só porque sim? ela tirou. babs, uma amiga dos tempos da faculdade, me mandou uma carta cheia de recortes de sapo, sabendo que eu estava triste e que sapos me fazem sentir feliz. amandinha não, no começo do nosso namoro, me respondeu mensagens que tinham ficado sem resposta lá no começo e me contou pedaços de dias dela, enquanto pensava em mim. le me mandou uma receita de bolo de cenoura vegano. amigos me mandaram postais dizendo coisas maravilhosas, porque lembraram de mim (e porque eu pedi, confesso) enquanto viajavam. elise, uma amiga maravilhosa, me escreveu contando da vida dela e dizendo que estava com saudades. alcenise, uma correspondente que me encontrou através de algum dos meus registros em listas de penpalling, trocou pedaços da sua vida comigo. minha prima gabi me escreveu, durante o ensino médio, enquanto estava no seu intercâmbio, na rússia. minha amiga ana pê me mandou um bocado de cartas, com o envelope característico da empresa que toca com seus pais, mantendo uma amizade que surgiu há tanto tempo que eu nem lembro direito, por causa de rpg no orkut. eu sorri inúmeras vezes lendo essas e outras cartas, pensando em como é bom poder ser amada pelas pessoas, como é bom ter amigos, como é bom poder amar e mandar cartas e receber cartas e sentir uma euforia gigantesca quando se encontra um envelope na caixa de correio — uma carta que alguém escreveu, enviou, só pensando em você.

no meio de coisas difíceis que têm acontecido, também temos coisas boas. conheci o zé tampinha no domingo, um querido, após uma troca de e-mails e uma feliz coincidência de ele vir até são paulo e, chegando em casa, liguei pra amandinha não: como é bom fazer amigos, eu disse. como é bom descobrir mais sobre as pessoas. como é bom poder sorrir. fofocamos (eu e ele e, depois, eu e ela) sobre a vida, sobre o passado e sobre o futuro; me deleitei pensando em boas companhias e amigos que a vida nos proporciona. eu sempre digo que amo meus amigos, que sou apaixonada por eles, porque nada me causa mais felicidade do que ter pessoas que eu admiro e prezo à minha volta na vida.

talvez amar seja isso: querer sorrir olhando pra alguém, lembrando de alguém, e perceber que já se está sorrindo há algum tempo, porque é inevitável. porque é fácil. é ler uma postagem e pensar “é exatamente isso!”, é a euforia de se fazer amigos novos e sentir que o coração está cheio de coisa boa, pra variar.

é, acho que amar é querer sorrir.

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