como eu 1) não leio muito e 2) não estou mais nas redes sociais, achei que aqui seria um bom lugar pras eventuais leituras que faço. recentemente, aproveitei a feira do livro da unesp pra comprar alguns livros e quadrinhos legais, e esse foi um deles; como o livro é pequeno e eu estava na minha semana de trabalho presencial, aproveitei pra ler durante o trajeto casa-trabalho, na ida e na volta. comecei a ler na segunda e terminei na sexta pela manhã, então é realmente uma leitura bem rápida.
a história rodeia yeonghye, uma jovem mulher sul-coreana que, após uma noite de sonhos assustadores, decide parar de comer carne e consumir quaisquer produtos de origem animal. quando eu digo “rodeia” porque é realmente isso o que ela faz, permeando a vida das pessoas que convivem com a protagonista e nos mostrando tudo por uma ótica externa, ao invés de mostrar os sentimentos e pensamentos da própria yeonghye.
Dava a impressão de se contentar com observar tudo o que lhe acontecia, como uma espectadora, apenas. Não: quem sabe em seu interior coisas terríveis e inimagináveis estivessem acontecendo, e gerenciar tudo aquilo, mais as questões cotidianas, fosse desgastante demais para ela. Talvez por isso não tivesse energia suficiente para demonstrar interesse ou para reagir às coisas ao seu redor.
é um livro angustiante. quando peguei pra ler, já sabia que era um livro de “terror” (entre várias aspas, porque a fonte são as vozes da minha cabeça), mas não esperava que a narrativa fosse me deixar tão ansiosa; houve momentos em que eu estava lendo e decidia parar, porque sentia muito nervoso. aí resolvia voltar a ler. aí, parava de novo. entre trancos e barrancos, terminei a primeira parte do livro, que me deixou muito curiosa pelo resto.
não vou contar a história do livro a fundo aqui (por motivos óbvios), mas terminei a leitura me sentindo um pouco frustrada, esperando que fosse ter um certo surrealismo fantástico, algo que elevasse mais a parte assustadora da coisa toda. lendo um pouco sobre o livro e a autora, descobri que ele surgiu a partir de um conto que ela tinha feito em 1997 e que tinha exatamente esse surrealismo fantástico que eu esperava d'a vegetariana! o conto se chama the fruit of my woman (“o fruto da minha mulher”, em português), e você pode ler a tradução para o inglês aqui. importante sublinhar que o fato de não ser o que eu esperava fez com que a trama fosse igualmente forte, mas de uma maneira diferente, na minha opinião.
Tenho alguma coisa entalada na boca do estômago. (...) É por causa da carne. Comi carne demais. Todas essas vidas estão entaladas aqui. Tenho certeza. Sangue e carne foram digeridos e se espalham por todos os cantos do meu corpo; os resíduos foram colocados para fora, mas as vidas insistem em obstruir o plexo solar.
os temas do livro, principalmente após o final, são muito interessantes, e fiquei morrendo de vontade de falar sobre. é muito interessante observar os pontos de vista culturalmente distoantes dos nossos: o retrato de uma sociedade diferente, mas com dilemas internos assustadoramente parecidos com os que eu (e a torcida do flamengo, muito provavelmente) sentimos todos os dias. é um livro que fala muito sobre o que é ser uma pessoa, o que é existir em sociedade, o que são vontades e motivações, sem falar diretamente de nenhum desses temas.
por fim, achei bem legal! recomendo pra quem gosta de leituras que te deixam na bordinha da cadeira, com desespero e um vazio existencial quando terminam. acho que vou buscar um livro um pouco mais leve pra ser minha próxima leitura, risos.
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